Ozzy Osbourne: o nascimento do Príncipe das Trevas — Parte 1

Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.

Introdução polêmica

Ozzy Osbourne nunca foi o vocalista mais técnico, nem o músico mais disciplinado. Mas vamos ser honestos: quem se importa? Se o heavy metal nasceu com o Black Sabbath, foi porque Ozzy deu voz ao pavor, à paranoia e ao caos da vida real. Sua voz soava como um grito de socorro vindo das fábricas enfumaçadas de Birmingham, um prenúncio de que o mundo moderno não era tão romântico quanto os hippies queriam acreditar. Se você acha que isso é pouco, sugiro ouvir Black Sabbath à meia-noite, sozinho, e depois me dizer se ainda acha que Ozzy não mudou a história do rock.


Um garoto condenado pela vida

John Michael Osbourne nasceu em 1948, em Aston, bairro operário de Birmingham. Filho de uma família pobre, cresceu em meio ao barulho de metalúrgicas e minas de carvão. A escola nunca foi seu forte — dislexia e dificuldades de aprendizado fizeram dele alvo de zombarias. Para sobreviver, se meteu em pequenos furtos, chegando até a ser preso.

O apelido “Ozzy” surgiu ainda na escola. Era uma forma simples de brincar com a sonoridade de “Osbourne”, mas acabou se tornando parte inseparável de sua identidade. Para um garoto que não parecia ter futuro, “Ozzy” era mais do que um apelido: era uma maneira de se reinventar.


Como nasceu o Black Sabbath

O destino juntou Ozzy a Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward de forma quase casual. Ozzy e Iommi eram do mesmo bairro e chegaram a estudar na mesma escola. Quando Iommi e Ward buscavam um vocalista para sua nova banda, encontraram o anúncio colado por Ozzy em uma loja de música: “Ozzy Zig Needs Gig”. Eles lembraram daquele garoto estranho da escola e decidiram chamar.

Com Geezer Butler no baixo, a química surgiu. Primeiro se chamaram Earth, mas logo trocaram para Black Sabbath, inspirados em um filme de terror italiano. A ideia era clara: se as pessoas pagavam para sentir medo no cinema, por que não fariam o mesmo com a música?

Em fevereiro de 1970, lançaram o disco Black Sabbath. Riffs pesados, letras apocalípticas e a voz angustiada de Ozzy criaram algo novo: o heavy metal.


A fábrica de clássicos

Nos anos seguintes, o Sabbath despejou uma sequência absurda de discos que moldaram o metal: Paranoid (1970), Master of Reality (1971), Vol. 4 (1972) e Sabbath Bloody Sabbath (1973).
Ozzy não escrevia a maioria das letras — essa era a praia de Geezer Butler —, mas teve algumas contribuições, como em Fairies Wear Boots e Who Are You. No fim das contas, era sua voz que transformava versos sombrios em realidade sonora. War Pigs virou um hino contra a guerra do Vietnã. Iron Man trouxe um riff tão poderoso que até hoje é aula de guitarra para iniciantes. E Paranoid se tornou um dos singles mais tocados do rock mundial.

Enquanto Zeppelin e Purple buscavam o virtuosismo, o Sabbath mergulhava no peso e na escuridão. Ozzy era o anti-herói perfeito: não afinava como Plant, não tinha alcance como Gillan, mas carregava uma energia visceral. Ele era a voz da distopia.


O caos como identidade

Parte do mito Ozzy nasceu fora do estúdio. Durante sua primeira fase com o Sabbath, os excessos já estavam em cena: bebidas em quantidade absurda, drogas de todos os tipos, festas intermináveis e destruição de hotéis. Ozzy transformou o exagero em performance.

O público ia aos shows não só para ouvir Children of the Grave, mas também para ver até onde Ozzy levaria sua autodestruição. Essa aura de imprevisibilidade ajudou a consolidar a imagem de “Príncipe das Trevas”.


Fim de um ciclo

Com o sucesso veio o colapso. O Sabbath mergulhou em drogas e tensões internas, mas Ozzy foi quem mais afundou. Em 1979, já incapaz de contribuir para a banda, foi expulso. Para muitos, aquela seria a pá de cal: o vocalista que ajudou a criar o heavy metal agora estava perdido em quartos de hotel, cercado por garrafas e pó.

Na época, ninguém apostaria um centavo que ele teria futuro. Mas o destino guardava uma reviravolta. E o nome dessa reviravolta era Sharon Arden, a mulher que transformaria Ozzy do exilado do Sabbath no “Príncipe das Trevas” definitivo.


Continue em: Ozzy Osbourne: Sharon e o renascimento do Príncipe das Trevas — Parte 2


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Questões que não querem calar

Ozzy escreveu letras no Black Sabbath?
Sim, mas poucas. A maior parte vinha de Geezer Butler, porém Ozzy assinou faixas como Fairies Wear Boots e Who Are You.

O apelido Ozzy veio de onde?
Era uma forma de brincar com o som de “Osbourne”, e acabou virando parte inseparável da sua persona.

Ozzy era afinado como cantor?
Esse é o ponto polêmico: muitos críticos diziam que não, mas sua voz carregava uma angústia inimitável. Pode não ser técnica, mas foi justamente isso que deu identidade ao Sabbath.


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Por Bruno Falcão