Ozzy Osbourne: a lenda viva do heavy metal — Parte 3

Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.

A lenda que recusou parar

Ozzy Osbourne sempre foi um sobrevivente improvável. O garoto de Birmingham que fugia de empregos comuns virou a voz do heavy metal, mas, ainda nos anos 80, críticos apostavam que ele não passaria da década. Nos anos 90, virou caricatura dos próprios excessos. Nos anos 2000, foi transformado em piada televisiva. Mas, contra todas as previsões, o “Príncipe das Trevas” atravessou o tempo. Resistiu a quedas, cirurgias e a um diagnóstico que tentou calá-lo em silêncio. E quando finalmente se despediu, não o fez num hospital: foi em um palco, com luzes, guitarras e milhares de pessoas gritando seu nome.


Primeira aposentadoria: 1992

O primeiro “adeus” veio cedo. Em 1992, no auge do sucesso de No More Tears, Ozzy anunciou que estava fora. A turnê seguinte não poderia ter outro nome: No More Tours. O roqueiro dizia estar esgotado, física e emocionalmente. O mundo do metal entrou em choque — Ozzy, aos 44 anos, encerraria ali sua carreira? Claro que não.
Aposentadorias, no caso dele, sempre foram ensaios. Em 1995, ele voltou com Ozzmosis e, como se nada tivesse acontecido, já estava novamente em arenas. Esse primeiro “fim” mostrou uma regra que se repetiria ao longo da vida: Ozzy não sabia sair de cena.


Na virada do milênio: fama e fragilidade

O início dos anos 2000 parecia tranquilo: o reality The Osbournes (2002–2005) transformou a família em estrelas de TV e aproximou Ozzy de um público que nunca tinha comprado um disco de vinil. A música seguia, e em 2013 o Sabbath ressurgia com 13, álbum que estreou em primeiro lugar nas paradas dos EUA e Reino Unido.
Mas, por trás das câmeras e dos palcos, havia uma batalha silenciosa. Em 2003, Ozzy recebeu o diagnóstico de Parkinson, doença neurológica progressiva. A informação ficou guardada em família. Para os fãs, as pausas, quedas e cirurgias eram apenas “efeitos colaterais da idade e do excesso”. A verdade só viria à tona anos depois, mas já naquela época a doença começava a corroer seu corpo — ainda que não sua vontade.


A promessa do fim: No More Tours II

Em 2018, Ozzy anunciou mais uma despedida: a turnê No More Tours II, claramente vendida como sua última grande volta ao mundo. A agenda previa dois anos de shows. Mas, entre 2019 e 2020, o inevitável aconteceu: quedas graves, uma pneumonia que o levou à UTI e cirurgias na coluna. Pela primeira vez, a lenda parecia se aproximar do fim real.
Foi então que, em janeiro de 2020, Ozzy decidiu abrir o jogo. Em entrevista ao Good Morning America, revelou ao mundo que vivia com Parkinson tipo PRKN-2. A notícia caiu como bomba: aquilo explicava os tremores, a dificuldade de se mover, a fragilidade cada vez mais visível. O público que sempre viu em Ozzy o rosto do caos percebeu que agora ele lutava contra o inimigo mais implacável: o próprio corpo.


A aposentadoria oficial: 2023

Em fevereiro de 2023, veio o comunicado oficial. Em carta aberta, Ozzy anunciou a aposentadoria definitiva das turnês. Disse, com amargura, que não tinha mais condições físicas de viajar. Para muitos, aquele era o fim — silencioso, sem o espetáculo que sempre definiu sua vida.
Mas Sharon, mais uma vez, não aceitou. Se Ozzy não podia percorrer o mundo, poderia ao menos se despedir em grande estilo. Um show, em sua cidade natal, fechando o ciclo. Foi assim que nasceu a ideia de Back to the Beginning.


O último ato: Back to the Beginning

No dia 5 de julho de 2025, Birmingham assistiu ao último suspiro de um mito. O estádio Villa Park recebeu 45 mil pessoas para ver Ozzy pela última vez. No palco, estavam Tony Iommi e Geezer Butler, e até Bill Ward, ausente de tantas reuniões anteriores, voltou para esse adeus. Era o Sabbath, completo, encerrando onde havia começado.
Ozzy não podia andar, e se apresentou sentado em um trono decorado com caveiras. Mas quando sua voz soou em Iron Man e Paranoid, o estádio inteiro explodiu. Ele já não tinha potência de outrora, mas cada palavra soava como testamento.

O evento reuniu o que havia de maior no metal: Metallica, Pantera, Guns N’ Roses, Slayer, Tool, Alice in Chains, Gojira. Lzzy Hale emocionou com “Perry Mason”; Yungblud trouxe lágrimas com “Changes”. E no clímax, o Sabbath se despediu em coro com fogos e riffs. Para muitos críticos, foi um “Live Aid do heavy metal”: não apenas show, mas rito de passagem.

E o espetáculo foi além: arrecadou US$ 190 milhões (£140 milhões), integralmente doados a instituições como Cure Parkinson’s, Birmingham Children’s Hospital e Acorns Children’s Hospice. O homem que tantas vezes chocou arrancando cabeças de animais agora fechava a vida oferecendo esperança para pacientes e crianças.


O adeus definitivo

Ozzy Osbourne morreu em 22 de julho de 2025, apenas 17 dias após o show final, aos 76 anos. A causa oficial: infarto agudo do miocárdio e parada cardíaca fora do hospital, com doença arterial coronariana e Parkinson com disfunção autonômica como fatores contribuintes.
Foi o fim físico, mas não o cultural. Ao todo, foram 9 álbuns com o Black Sabbath e 13 álbuns solo, somando mais de 100 milhões de cópias vendidas. A quantidade impressiona, mas o essencial é a marca deixada: a imagem de que o heavy metal tem rosto, voz e atitude — e esse rosto será para sempre o de Ozzy Osbourne.


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Questões que não querem calar

Quando Ozzy foi diagnosticado com Parkinson?
Em 2003. Ele só revelou ao público em 2020, quando a doença já comprometia sua saúde.

Quantas vezes anunciou aposentadoria?
Três: em 1992, em 2018/2019 com No More Tours II, e em 2023, quando parou de vez as turnês.

O show final foi realmente beneficente?
Sim. O Back to the Beginning arrecadou cerca de US$ 190 milhões, doados a instituições médicas e sociais.

Quantos álbuns deixou?
Com o Black Sabbath: 9 de estúdio. Em carreira solo: 13 de estúdio. Mais de 100 milhões de discos vendidos.

Qual foi a causa da morte?
Infarto agudo do miocárdio e parada cardíaca extrahospitalar, agravados por doença arterial coronariana e Parkinson.


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Por Bruno Falcão