Woodstock 1969: rock pesado na lama — Parte 4

Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.

Creedence Clearwater Revival: a madrugada sonolenta que virou clássico

Em 1969, o Creedence Clearwater Revival era uma das bandas mais quentes da América. Só naquele ano, lançaram três álbuns — Bayou Country, Green River e Willy and the Poor Boys. Seus riffs curtos e pegajosos estavam em todas as rádios, com sucessos como Proud Mary e Bad Moon Rising.

Quando subiram ao palco de Woodstock, já passava das duas da manhã. O público estava exausto, muitos dormindo no chão enlameado, outros tentando se aquecer. John Fogerty, irritado, chegou a comentar que estava tocando “para um monte de corpos deitados no chão”. Ainda assim, o som do Creedence cortou a madrugada com a potência de um trovão.

Entre as músicas, Born on the Bayou incendiou quem ainda tinha forças, e Keep on Chooglin’ se arrastou em uma jam vibrante, mostrando a força da banda ao vivo. Apesar do horário ingrato, a performance deixou claro que o Creedence era uma máquina de rock americano, capaz de transformar até o cansaço coletivo em vibração elétrica.

O momento mais marcante

Born on the Bayou ressoando no meio da madrugada, com Fogerty cuspindo versos como quem enfrentava a própria escuridão. Mesmo cansados, os sobreviventes daquela noite nunca esqueceram o peso da apresentação.

Canned Heat: o hino não oficial da contracultura

Se havia uma música que já soava como trilha sonora de Woodstock antes mesmo de Woodstock existir, era Going Up the Country, do Canned Heat. Lançada em 1968, a canção havia se tornado um verdadeiro hino hippie, cantado em rodas de violão de costa a costa nos EUA.

Quando a banda subiu ao palco, a multidão reconheceu imediatamente a abertura e cantou junto como se fosse o hino nacional da contracultura. Bob Hite, o vocalista apelidado de “The Bear”, conduzia o público com sua figura imponente, enquanto Alan Wilson, o “Blind Owl”, encantava com sua voz fina e singular.

Além do hino, músicas como On the Road Again mostraram a alquimia única da banda, que misturava blues rural, psicodelia e energia improvisada. Canned Heat representava o espírito mais despretensioso do festival: sujo, divertido e essencialmente livre.

O momento mais marcante

Quando a plateia inteira entoou Going Up the Country, ficou claro que aquela era a trilha sonora não oficial de Woodstock. Mais do que uma canção, era a expressão coletiva de uma geração que queria fugir do mundo tradicional.

Ten Years After: a guitarra mais rápida da lama

Se o Creedence trouxe o peso do rock americano e o Canned Heat a descontração hippie, o Ten Years After explodiu o palco com pura velocidade. A banda britânica, liderada pelo guitarrista Alvin Lee, já vinha chamando atenção no Reino Unido, mas foi em Woodstock que conquistou fama mundial.

O show culminou em I’m Going Home, uma jam de mais de dez minutos em que Alvin Lee transformou a guitarra em uma metralhadora. Riffs velozes, solos quase insanos e uma presença de palco elétrica mantiveram o público em transe, mesmo no meio da madrugada.

Para muitos, foi uma das grandes surpresas do festival. Alvin Lee saiu de Woodstock aclamado como um dos guitarristas mais rápidos e incendiários de sua geração.

O momento mais marcante

A execução furiosa de I’m Going Home. Não havia cenário, iluminação ou técnica que competisse com a velocidade absurda de Alvin Lee. Foi um show que colocou o Ten Years After no mapa definitivo do rock.

Entre a lama e a madrugada

A noite que trouxe Creedence, Canned Heat e Ten Years After mostrou o lado mais cru de Woodstock. O público estava exausto, encharcado e coberto de lama, mas as guitarras não perdoaram. Entre o peso americano e a fúria britânica, a madrugada se transformou em mais um capítulo da lenda.


Questões que não querem calar

Por que o show do Creedence não entrou no documentário oficial de Woodstock?
A banda achou que o som não estava bom o suficiente. John Fogerty vetou as gravações, mas anos depois elas foram lançadas e hoje são vistas como parte essencial do festival.

Canned Heat era realmente uma banda grande em 1969?
Não era gigante como Hendrix ou The Who, mas tinha status de culto, especialmente entre os hippies. Going Up the Country já era considerada a trilha sonora da contracultura.

Alvin Lee foi o guitarrista mais rápido de Woodstock?
Provavelmente sim. Sua performance em I’m Going Home se tornou referência e o projetou como um dos grandes guitarristas da era.


Leia também


Por Camila Stronda

Esse é apenas um lado da conversa. Qual é o seu? Comente e participe da discussão.