Woodstock 1969: groove e distorção final — Parte 7

Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.

Sly & The Family Stone: a madrugada em transe

Na madrugada de domingo para segunda, quando o cansaço já havia dominado a multidão, uma banda entrou no palco e injetou energia como se fosse o primeiro minuto do festival. Sly & The Family Stone, grupo interracial e com homens e mulheres em sua formação, já tinha fama com hits como Dance to the Music e Everyday People, mas em Woodstock atingiram outro patamar.

Comandados por Sly Stone, vestido de branco e com carisma quase messiânico, a banda trouxe um som híbrido de soul, funk e rock que fez a lama virar pista de dança. O público, que até então oscilava entre o sono e a exaustão, despertou em êxtase coletivo.

O ponto alto veio com I Want to Take You Higher. O refrão repetitivo — “Higher! Higher!” — virou um mantra hipnótico, com dezenas de milhares de vozes respondendo em uníssono. Foi mais que um show: foi um ritual de libertação em plena madrugada.

O momento mais marcante

I Want to Take You Higher, que começou como música e terminou como experiência coletiva. O chamado de Sly transformou uma plateia fatigada em uma massa vibrante, provando que a dança também era arma de revolução.

Joe Cocker: a catarse interrompida pela tempestade

Na manhã de segunda-feira, 18 de agosto, quem abriu o último dia do festival foi Joe Cocker. Até então pouco conhecido fora da Inglaterra, ele havia lançado seu primeiro álbum solo meses antes. Woodstock se tornaria seu grande batismo de fogo diante do mundo.

Quando Cocker entrou no palco, sua voz rouca e gestos convulsivos imediatamente conquistaram a multidão. Ele parecia um homem possuído pela própria música. Sua interpretação de With a Little Help from My Friends, dos Beatles, foi um dos momentos mais arrebatadores de todo o festival. A canção se transformou em hino de fraternidade, com a multidão cantando junto como se fosse uma oração coletiva.

Além desse ápice, Cocker entregou versões intensas de Feelin’ Alright e Something’s Coming On, sempre com sua banda, a Grease Band, sustentando o peso da performance. O público, mesmo exausto, se entregava ao transe guiado por sua voz.

Mas assim que o show terminou, uma tempestade monumental caiu sobre Woodstock. Raios, trovões e chuva torrencial forçaram a interrupção do festival por horas. O campo virou um mar de lama, e o caos logístico quase fugiu ao controle. O contraste foi brutal: da catarse com Joe Cocker à desolação provocada pelo temporal.

O momento mais marcante

A interpretação de With a Little Help from My Friends. Cocker reescreveu a canção dos Beatles em uma versão visceral, tão definitiva que até hoje é lembrada como sua marca registrada.

Groove e catarse antes do fim

Enquanto Sly & The Family Stone provaram que a música podia ser dança, Joe Cocker mostrou que podia ser prece. Entre a madrugada e a manhã, Woodstock revelou dois extremos: o groove libertador e a emoção catártica. Mas também anunciou que o festival caminhava para seu fim — e a chuva que desabou após o show de Cocker parecia lembrar que nem mesmo a utopia era à prova do tempo.


Questões que não querem calar

Sly & The Family Stone já eram famosos antes de Woodstock?
Sim, tinham hits nas paradas, mas o festival consolidou a banda como um dos grandes nomes do funk e do soul.

Por que o show de Joe Cocker é tão lembrado?
Porque sua versão de With a Little Help from My Friends virou uma das interpretações mais poderosas já feitas no rock.

A chuva após Joe Cocker quase acabou com o festival?
Quase. O palco ficou encharcado, a lama tomou conta do campo e muitos acreditaram que o festival não conseguiria continuar.

Esses shows entraram no filme oficial de Woodstock?
Sim. Tanto Sly quanto Cocker tiveram destaque no documentário, ajudando a eternizar suas performances para o mundo.


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Por Camila Stronda


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