
Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.
Envelhecer é natural. No rock, no entanto, a decadência pode ser cruel de assistir. Algumas bandas conseguiram atravessar décadas reinventando-se e mantendo relevância. Outras, porém, ficaram presas no tempo, sobrevivendo de nostalgia e turnês caça-níqueis. O problema não é ficar velho — é soar velho, previsível, quase como uma caricatura de si mesmo.
Neste artigo, vamos cutucar feridas e apontar quais bandas de rock envelheceram mal, por que isso aconteceu e quando o declínio começou.
Bon Jovi: do hard rock ao rádio adulto
Nos anos 80, Bon Jovi dominava arenas com Slippery When Wet (1986) e New Jersey (1988). O declínio ficou claro nos anos 2000, com discos mornos como Bounce (2002) e Have a Nice Day (2005). A exceção foi “It’s My Life” (2000), que ainda trouxe força e virou hino de virada de milênio. O problema é que Jon Bon Jovi perdeu potência vocal e a banda virou caricatura de si mesma, mais próxima de trilha de rádio adulto do que do hard rock que os consagrou.
Guns N’ Roses: congelados nos anos 90
O auge criativo do Guns terminou nos Use Your Illusion (1991). A megalomania engoliu a crueza de Appetite for Destruction (1987), e o hiato dos anos 90 matou a relevância. Chinese Democracy (2008) trouxe boas faixas como “Better” e “There Was a Time”, mas não justificou 15 anos de espera. O reencontro com Slash e Duff em 2016 lotou estádios, mas mostrou que hoje o Guns é apenas uma banda de tributo a si mesma.
Aerosmith: do veneno às baladas domesticadas
Nos anos 70, o Aerosmith era sujo, perigoso e viciante. A volta triunfal veio com Permanent Vacation (1987) e Pump (1989). O declínio começou nos anos 90 com Nine Lives (1997) e se consolidou em Just Push Play (2001), um festival de baladas radiofônicas. Ainda dá para salvar músicas como “Jaded” (2001), mas a ferocidade ficou para trás. Hoje, Steven Tyler parece mais preocupado com reality shows e autobiografias do que em soltar riffs incendiários no palco.
Kiss: a marca que engoliu a banda
O Kiss dos anos 70 era explosivo, com álbuns clássicos como Destroyer (1976). O declínio começou nos anos 80, quando a maquiagem caiu (Lick It Up, 1983) e a banda tentou se reinventar. Revenge (1992) foi o último grande suspiro criativo, com músicas como “Unholy”. Depois disso, o som parou no tempo e o foco virou merchandising: camisetas, bonecos e até caixões. A volta da maquiagem em 1996 garantiu bilheteria, mas não relevância musical. Hoje, o Kiss é mais marca registrada do que banda.
U2: o fardo da grandiosidade
Até Achtung Baby (1991), o U2 parecia imbatível. O declínio veio com Pop (1997), que envelheceu mal, e se consolidou em No Line on the Horizon (2009). Ainda assim, singles como “Beautiful Day” (2000) e “Vertigo” (2004) mostraram que havia vida criativa. Mas o excesso de megalomania transformou a banda numa caricatura de si mesma. O público cansou do sermão de Bono — e hoje os maiores shows do planeta soam mais como missa que como rock.
Por que algumas bandas envelhecem mal?
- Medo de parar no auge: insistem em turnês infinitas, sem gás criativo.
- Desconexão com o presente: não entenderam que o rock mudou de contexto.
- Excesso de ego: acreditam que qualquer álbum novo importa só porque tem o nome da banda na capa.
Conclusão: o rock não perdoa
Algumas bandas — como Rolling Stones e AC/DC — conseguiram envelhecer mantendo autenticidade. Outras, como as citadas aqui, perderam o timing e viraram peças de museu ambulante. O rock pode até respeitar o passado, mas não tem paciência com quem insiste em viver dele.
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Questões que não querem calar
Toda banda que passa do auge envelhece mal?
Não. Stones e AC/DC provam que é possível envelhecer com dignidade.
Vale a pena ir a shows dessas bandas?
Se for pela nostalgia, sim. Se busca novidade, vai se decepcionar.
É melhor parar no auge?
Artisticamente, sim. Mas ego e dinheiro falam mais alto.
Bandas novas também podem cair no mesmo erro?
Sem dúvida. A tentação da autoparódia é atemporal.
Por Bruno Falcão
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