
Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.
Quantas vezes você já ouviu as mesmas bandas sendo citadas em qualquer roda de conversa sobre rock? Beatles, Rolling Stones, Nirvana, Led Zeppelin… tudo justo. Mas e aquelas que influenciaram gerações, criaram estilos e mesmo assim ficaram de fora dos holofotes?
Pois é, o rock também é feito de injustiças. Grupos que poderiam ter mudado a história se tivessem recebido mais atenção da mídia, das rádios e das gravadoras. Vamos às histórias.
Big Star: inventaram o power pop, mas não venderam discos
Nos anos 70, enquanto o rock americano se dividia entre o peso do hard rock e a psicodelia, o Big Star gravou álbuns que soavam como o futuro: #1 Record (1972) e Radio City (1974). Hoje são considerados pioneiros do power pop, apontados como referência para bandas como R.E.M. e Teenage Fanclub.
Na época, porém, sofreram com problemas de distribuição pela Stax Records e venderam pouquíssimos discos. Só décadas depois ganharam o status cult.
The Replacements: rebeldes brilhantes que se autodestruíram
The Replacements, de Minneapolis, foram um dos nomes mais originais dos anos 80. O álbum Let It Be (1984) aparece em listas da Rolling Stone e da Pitchfork entre os melhores da década.
Mas os shows caóticos, as brigas internas e o abuso de álcool prejudicaram a trajetória. Mesmo assim, sua mistura de punk, pop e melancolia deixou marcas em bandas posteriores como Green Day e Goo Goo Dolls, que já citaram os Replacements como influência.
Os Mutantes: reverenciados lá fora, subestimados aqui
No Brasil, os Mutantes são lembrados como parte da Tropicália, mas no exterior são tratados como visionários. O disco Os Mutantes (1968) já apareceu em listas da Mojo e da Rolling Stone americana entre os álbuns psicodélicos mais importantes.
Nos anos 90, o ex-Talking Heads David Byrne relançou seus discos pelo selo Luaka Bop, reacendendo o interesse internacional. O cantor Beck declarou sua admiração e batizou Mutations (1998) em homenagem. Hoje, artistas como Devendra Banhart e Of Montreal citam o grupo como referência.
Kyuss: criadores do stoner rock no deserto da Califórnia
No começo dos anos 90, enquanto Seattle dominava o mundo com o grunge, o Kyuss fazia história no deserto da Califórnia. O álbum Welcome to Sky Valley (1994) é considerado um marco do stoner rock.
Embora nunca tenham sido populares no mainstream, deram origem a toda uma cena. Josh Homme, guitarrista da banda, fundou depois o Queens of the Stone Age, que alcançou o sucesso global.
Elis Regina e a ousadia que poderia ter mudado tudo
Elis é um ícone da MPB, mas também ousou experimentar. Em discos como Falso Brilhante (1976), há arranjos de guitarra elétrica e uma sonoridade que dialogava com o rock progressivo da época.
Ela nunca se assumiu como artista de rock — e aqui fica a provocação: se tivesse seguido por esse caminho, talvez hoje fosse lembrada como um elo entre MPB e rock.
Conclusão
Essas bandas e artistas mostram como talento e inovação não garantem reconhecimento imediato. Seja por má distribuição, indisciplina, barreiras culturais ou puro azar, acabaram ficando à margem do mainstream.
Mas suas músicas resistem ao tempo — e cabe a nós, ouvintes atentos, dar a elas o espaço que nunca tiveram.
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Questões que não querem calar
Por que bandas como Big Star e Replacements não fizeram sucesso na época?
Por problemas de distribuição, escolhas ruins de gravadora e, no caso dos Replacements, falta de disciplina.
Os Mutantes são mais respeitados fora do Brasil?
Sim. Revistas como Rolling Stone e Mojo os citam entre os grandes do psicodelismo, e artistas internacionais como Beck e David Byrne ajudaram a mantê-los vivos no cenário global.
Kyuss realmente criou o stoner rock?
São considerados os fundadores do gênero, especialmente com o álbum Welcome to Sky Valley. Outros grupos ajudaram a expandir a cena, mas eles plantaram a semente.
Elis Regina pode ser considerada rockeira?
Não. Elis é um ícone da MPB. Mas suas incursões experimentais mostram que ela poderia ter trilhado esse caminho, o que abre espaço para debates interessantes.
Por Camila Stronda
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