
Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.
Dá para falar de rock sem invocar sempre os mesmos fósseis sagrados? Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd… esses dinossauros do rock ergueram um império tão sólido que, até hoje, parece que todo o gênero gira em torno deles. Mas aí vem a pergunta que incomoda: existe vida após os monstros do passado ou o rock está condenado a viver de lembrança e tributo?
O peso da herança
Não se trata de desmerecer o legado — impossível negar o impacto cultural, político e sonoro desses gigantes. Eles são, na verdade, habitantes do Olimpo do Rock, alicerces sobre os quais todo o gênero se sustenta. O problema está no culto exagerado, que muitas vezes sufoca o novo. Em qualquer festival, uma banda cover de Iron Maiden ou Queen costuma atrair mais público do que grupos autorais. A indústria fonográfica, cada vez mais avessa a riscos, prefere vender a mesma nostalgia em embalagens diferentes. Resultado: o rock corre o risco de virar apenas um museu de glórias passadas, onde a rebeldia é lembrada, mas raramente renovada.
A diferença de gerações: da loja de discos ao algoritmo
Nos anos 70 e 80, as pessoas iam atrás da música. Entravam em lojas de discos famintas por novidade, pediam recomendações ao balconista, liam encartes, discutiam álbuns inteiros. Havia sede pelo desconhecido. Hoje, quem dita o que você ouve é um algoritmo de streaming, que despeja playlists pasteurizadas com três acordes, autotune e letras descartáveis. O ouvido da maioria foi condicionado a aceitar essa papinha sonora, incapaz de digerir algo mais ousado. Música nova de qualidade até existe, mas chega apenas a quem tem paciência de procurar além da superfície.
Tentativas de ressurreição: o grunge, o garage revival e a cópia preguiçosa
Nos anos 90, o grunge foi a última grande explosão autêntica, incomodando o establishment com Nirvana, Soundgarden e Pearl Jam. Nos anos 2000, o garage revival de Strokes e White Stripes trouxe uma faísca, mas foi rapidamente absorvido pelo mainstream. Hoje, nomes como Arctic Monkeys ou Royal Blood ainda carregam a tocha, mas sem a mesma força cultural.
E aí chegamos ao caso emblemático: o Greta Van Fleet. São jovens talentosos, mas não há mérito algum em soar como uma cópia carbono do Led Zeppelin. Isso não é homenagem, é preguiça criativa embalada em marketing. O rock não precisa de cosplay — precisa de ousadia.
Onde o rock ainda respira: bandas atuais com alma própria
Apesar da falta de espaço no mainstream, há quem mantenha o coração do rock batendo no underground. Bandas como o Rival Sons produzem discos sólidos, com riffs pesados e alma verdadeira. O mesmo vale para grupos como Dirty Honey e The Struts, que admitidamente têm como referências os gigantes do Olimpo, mas não caem na armadilha da imitação barata.
O Rival Sons carrega ecos do Led Zeppelin e do Free, mas imprime uma pegada visceral e contemporânea. O Dirty Honey traz a sujeira dos anos 70 inspirada em Aerosmith e AC/DC, mas com identidade própria. Já o The Struts bebe da teatralidade do Queen e da irreverência do Slade, mas traduz tudo em energia pop-glam atual. Essas bandas mantêm a chama acesa sem parecer clones, mas o fogo que iluminam ainda é visto por poucos.
O futuro possível
O rock sempre terá seus deuses intocáveis no Olimpo, servindo de pilares eternos para o gênero. Mas viver apenas da memória não basta. Para manter vivo o espírito do rock é preciso sangue novo, coragem e barulho. Só assim o gênero pode continuar incomodando, inspirando e sobrevivendo para além da nostalgia.
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Questões que não querem calar
O rock está realmente morto?
Não. Mas foi domesticado e perdeu espaço no mainstream para outros gêneros mais ousados, como o rap e o trap.
Por que bandas tributo fazem mais sucesso que as autorais?
Porque a indústria e parte do público preferem a nostalgia segura em vez do risco da novidade.
Existem bandas novas que valem a pena?
Sim: Rival Sons, Dirty Honey, The Struts e muitas outras que têm alma própria, mesmo inspiradas nos gigantes do passado.
O rock pode voltar ao topo das paradas?
Difícil. O mainstream não tem espaço para guitarras afiadas. Mas no underground, a chama segue acesa.
Por Bruno Falcão
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