Ozzy Osbourne: Sharon e o renascimento do Príncipe das Trevas — Parte 2

Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.

Final ou Recomeço?

Expulso do Black Sabbath em 1979, Ozzy Osbourne parecia estar enterrado vivo. Sem banda, afundado em álcool e drogas, chegou a cogitar largar a música de vez. Não faltava dinheiro — ele já era milionário graças ao sucesso do Sabbath —, mas vivia à beira de torrar tudo e desaparecer no esquecimento. Foi nessa hora que Sharon Arden apareceu. Ela não era só a esposa problemática: era a empresária afiada que o resgatou do precipício e o transformou no “Príncipe das Trevas” definitivo.


Don Arden salvou o Sabbath — Sharon salvou Ozzy

Antes de Sharon entrar em cena, seu pai, Don Arden, já tinha sido essencial para o Black Sabbath. Foi ele quem ajudou a banda a se livrar do antigo empresário Patrick Meehan, acusado de desviar fortunas enquanto os músicos recebiam quase nada. Don Arden mostrou que o rock não era só som pesado — era também uma guerra por dinheiro e contratos. Essa lição Sharon aprendeu cedo e aplicaria com ferocidade ao lado de Ozzy.


O encontro que virou salvação

Sharon já conhecia Ozzy desde os tempos em que acompanhava os negócios do pai, mas foi após a expulsão do Sabbath que a relação se intensificou. Enquanto todos apostavam que Ozzy estava acabado, ela viu um artista único, cercado de pó e garrafas, que ainda tinha futuro. Sharon assumiu a vida pessoal e profissional dele: cuidava de contratos, planejava turnês, blindava o nome “Ozzy Osbourne” e, ao mesmo tempo, sabia explorar sua aura caótica. Não foi apenas amor: foi estratégia.


O renascimento com Blizzard of Ozz

O primeiro grande fruto dessa parceria foi Blizzard of Ozz (1980). Com Randy Rhoads na guitarra, Bob Daisley no baixo e como parceiro de composições, e Lee Kerslake na bateria, Ozzy lançou um disco explosivo.
Crazy Train e Mr. Crowley viraram clássicos imediatos, colocando Ozzy de volta ao topo. Blizzard vendeu milhões e provou que ele não precisava do Sabbath para existir. Sharon tinha conseguido o impossível: transformar um cantor dado como morto em estrela solo de primeira grandeza.


Tragédia e reconfiguração

Mas o sucesso foi abalado em 1982, quando Randy Rhoads morreu em um acidente de avião. O golpe foi devastador, e Ozzy quase desmoronou. Sharon, mais uma vez, segurou as rédeas e manteve a carreira em movimento.
Novos guitarristas assumiram a missão: Jake Lee, que brilhou em Bark at the Moon (1983), e mais tarde Zakk Wylde, que se tornaria parceiro de longa data e praticamente sinônimo da guitarra de Ozzy.


Loucuras que viraram mito

Mesmo sob a gestão rígida de Sharon, o caos continuava. Em 1981, Ozzy arrancou a cabeça de duas pombas vivas em uma reunião com executivos da gravadora. Em 1982, durante um show em Des Moines, mordeu um morcego jogado por um fã — acreditando que fosse de borracha. Resultado: 21 vacinas contra raiva.
Boatos ainda circularam sobre possíveis sacrifícios de animais em palco, como em Boston, mas eram falsos. O ponto é que Ozzy sabia (ou parecia saber) transformar cada insanidade em combustível para sua própria lenda.


Parcerias e composições lendárias

Além de Rhoads, Jake Lee e Zakk Wylde, a carreira solo de Ozzy teve momentos marcados por parcerias fora do seu círculo imediato. Uma das mais célebres foi com Lemmy Kilmister, do Motörhead. Juntos, compuseram faixas como Mama I’m Coming Home e Hellraiser, que se tornaram hinos dos anos 90.
Bob Daisley também foi figura fundamental nos bastidores: responsável por letras, arranjos e direção musical, ajudou a moldar boa parte da sonoridade dos primeiros álbuns. Ozzy pode não ser compositor prolífico, mas soube cercar-se de parceiros de peso.


O Ozzfest e a vingança contra o Lollapalooza

No meio dos anos 90, Sharon tentou incluir Ozzy no festival Lollapalooza, mas recebeu uma resposta seca: ele não era mais “relevante”. A recusa acendeu a faísca. Se não havia espaço para Ozzy, Sharon criaria o seu próprio festival. Assim nasceu o Ozzfest, em 1996.
O evento logo virou anual e se tornou a maior vitrine do metal dos anos 90 e 2000. Bandas como Slipknot, System of a Down e Disturbed ganharam visibilidade global, dividindo palco com lendas como Slayer e o próprio Black Sabbath em reuniões históricas. Sharon tinha transformado a rejeição em triunfo.


The Osbournes e a explosão cultural

Se o Ozzfest garantiu Ozzy como referência no metal, o reality show The Osbournes (2002–2005) o transformou em ícone pop. Transmitido pela MTV, mostrava um Ozzy completamente diferente: um pai atrapalhado, que não sabia programar o controle remoto, discutia com os filhos e reclamava da bagunça da casa.
O contraste foi irresistível. O programa se tornou um fenômeno global, venceu prêmios e levou Ozzy a um público que nunca tinha ouvido Paranoid ou Crazy Train. Pela primeira vez, o “Príncipe das Trevas” parecia apenas… humano.


Um ciclo consolidado

Da expulsão do Sabbath ao estrelato solo, Ozzy sobreviveu a tragédias, escândalos e crises que teriam destruído qualquer outro. Com Sharon no comando, sua carreira deixou de ser apenas sobrevivência e virou um império cultural: discos, festivais, reality show e um mito que atravessava gerações.
Mas a história não termina aqui. A partir dos anos 2000, Ozzy ainda teria novos desafios — de saúde, de palco e de legado — até se tornar o símbolo vivo do heavy metal.


Continue em: Ozzy Osbourne: a lenda viva do heavy metal — Parte 3


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Questões que não querem calar

Ozzy realmente pensou em abandonar a música após sair do Sabbath?
Sim. Trancado em quartos de hotel, entregue ao álcool e às drogas, chegou a cogitar desistir de tudo. Apesar da fortuna acumulada, parecia pronto para desperdiçar a carreira e o dinheiro.

Ozzy acreditava em Deus?
Sim. Apesar da imagem sombria e das letras cheias de referências ao oculto, Ozzy sempre declarou acreditar em Deus. Para ele, havia uma linha tênue entre fé e fascínio pelo lado obscuro.

Ozzy fazia caridade?
Sim. Embora pouco divulgado, ele e Sharon doaram grandes quantias a hospitais e instituições. Em 2004, por exemplo, destinaram cerca de US$ 1 milhão ao hospital infantil de Birmingham, cidade natal de Ozzy.

Quais guitarristas marcaram sua fase solo?
Três nomes foram fundamentais: Randy Rhoads, Jake Lee e Zakk Wylde. Cada um trouxe uma identidade distinta e ajudou a consolidar a carreira de Ozzy fora do Sabbath.

Qual foi o impacto de The Osbournes?
O reality show explodiu em audiência e transformou Ozzy em celebridade global, alcançando até quem nunca tinha ouvido falar de heavy metal.


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Por Bruno Falcão