
Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.
Antes de se tornarem a banda mais influente da história da música, os Beatles foram apenas garotos tentando encontrar um caminho. Entre ensaios improvisados em garagens, noites intermináveis em clubes decadentes de Hamburgo e uma sucessão de trocas de integrantes, John Lennon, Paul McCartney e George Harrison formaram uma parceria que mudaria para sempre o rock. Mas, no começo, nem mesmo se chamavam Beatles.
The Quarrymen: o ponto de partida
Em 1956, John Lennon, ainda adolescente, fundou uma banda de skiffle chamada The Quarrymen, batizada em homenagem à Quarry Bank High School, onde estudava. O skiffle era o estilo da moda: barato, cru e acessível, perfeito para jovens que improvisavam instrumentos e aprendiam sozinhos. John já mostrava a veia de líder, mas o grupo estava longe de qualquer refinamento musical.
Foi em 6 de julho de 1957, durante uma apresentação dos Quarrymen na festa paroquial da St. Peter’s Church, em Liverpool, que aconteceu o encontro que mudaria tudo. Paul McCartney, levado por um amigo em comum, impressionou Lennon afinando sua guitarra e tocando “Twenty Flight Rock”, de Eddie Cochran, com desenvoltura. John, que sempre desconfiava de gente talentosa demais, percebeu que Paul poderia ser um aliado valioso. Poucos dias depois, convidou-o a entrar nos Quarrymen.
No ano seguinte, Paul apresentou George Harrison, um guitarrista precoce, ainda com 14 anos, mas já tecnicamente superior a muitos adultos. John relutou em aceitar alguém tão jovem, mas depois de ouvir George executar um solo limpo de “Raunchy”, mudou de ideia. Com isso, o núcleo Lennon–McCartney–Harrison estava formado. Ainda não eram os Beatles, mas as bases estavam lançadas.
Da juventude ao rock de garagem
Entre 1957 e 1959, os Quarrymen tocaram em festas, pequenos clubes e casamentos. Mudaram de nome várias vezes: Johnny and the Moondogs, Japage 3 e Silver Beetles, até chegar a The Beatles, em 1960. O som também evoluiu: do skiffle para o rock’n’roll, sempre com versões de Chuck Berry, Buddy Holly, Little Richard e Elvis Presley no repertório.
O grupo ainda não tinha um baterista fixo. Só em agosto de 1960 recrutaram Pete Best, que daria a estabilidade mínima necessária para embarcar na primeira grande aventura: Hamburgo.
Hamburgo: o batismo de fogo
Hamburgo, início dos anos 60. No distrito de St. Pauli, a vida começava quando o sol se punha. Luzes vermelhas iluminavam ruas tomadas por prostitutas, bares de marinheiros, bebidas baratas e violência ocasional. Foi ali que os Beatles — agora já com o nome oficial — foram contratados para tocar.
O primeiro palco foi o Indra Club, um cabaré onde shows de strip-tease dividiam espaço com bandas ao vivo. Logo seguiram para o Kaiserkeller, onde precisavam tocar até oito horas por noite, todos os dias da semana. Para suportar a rotina insana, recorriam a pílulas estimulantes, os “Preludin”, que os mantinham acordados, mas também em estado de euforia descontrolada.
Não eram prostíbulos formais, mas os clubes estavam cercados por prostituição e clientela nada fácil. O público queria energia, barulho e diversão sem pausas. Se a banda não segurasse a atenção, a noite terminava em vaias ou até em brigas. Foi nesse caos que os Beatles se tornaram uma máquina de palco: mais rápidos, mais barulhentos, mais confiantes.
Stuart Sutcliffe: o Beatle artista
Nesse período, outro personagem ganhou espaço: Stuart Sutcliffe, colega de Lennon na Liverpool College of Art. Stuart não era músico de verdade, mas um pintor talentoso. Com o dinheiro da venda de um quadro, comprou um baixo Höfner e, a convite de John, entrou na banda.
Sua importância não foi musical, mas estética. Ao lado de sua namorada, a fotógrafa Astrid Kirchherr, Sutcliffe ajudou a moldar o visual dos Beatles, adotando o corte de cabelo “à alemã” e inspirando os ensaios fotográficos que fariam do grupo uma banda diferente das demais.
Em 1961, Sutcliffe decidiu abandonar os Beatles para se dedicar à arte e permanecer em Hamburgo com Astrid. No ano seguinte, em abril de 1962, morreu de uma hemorragia cerebral, aos 21 anos. Sua morte marcou profundamente Lennon, que perdeu mais do que um colega de banda: perdeu um amigo íntimo.
O retorno a Liverpool e o Cavern Club
Depois de meses de maratonas alemãs, os Beatles voltaram a Liverpool mais afiados. No Cavern Club, um porão abafado e úmido, começaram a atrair multidões. Foi nesse ambiente subterrâneo que conheceram Brian Epstein, dono de uma loja de discos, que enxergou neles um potencial inexplorado. Epstein profissionalizou o grupo, substituiu as jaquetas de couro por ternos elegantes e negociou o contrato com a EMI.
Mas havia um problema: Pete Best. Carismático no palco, mas limitado em estúdio, não agradava ao produtor George Martin. A solução foi substituí-lo por Ringo Starr, baterista sólido que já circulava pela cena de Liverpool. A troca, em 1962, gerou protestos de fãs locais, mas completou a química perfeita.
A verdadeira formação dos Beatles
Com John, Paul, George e Ringo, os Beatles finalmente estavam completos. Já não eram garotos experimentando em becos escuros, mas uma banda disciplinada, experiente e pronta para conquistar o mundo. Hamburgo lhes deu resistência, Liverpool deu identidade, Epstein deu disciplina e George Martin daria a sofisticação.
Quando lançaram “Love Me Do” em outubro de 1962, tinham atrás de si não só anos de ensaios, mas também uma história de suor, caos e perdas pessoais. E foi isso que os transformou na banda capaz de liderar a revolução cultural dos anos 60.
Questões que não querem calar
O que realmente uniu John Lennon e Paul McCartney nos Quarrymen?
Não foi só talento musical. John enxergou em Paul alguém que podia rivalizar e, ao mesmo tempo, somar. Essa tensão criativa virou combustível da dupla.
Hamburgo foi apenas um “trampo de bar” ou o verdadeiro laboratório dos Beatles?
Definitivamente, foi um laboratório. Lá eles aprenderam a tocar longas horas, improvisar e conquistar plateias hostis.
Stuart Sutcliffe pode ser chamado de Beatle de verdade?
Como músico, não. Mas sua influência estética e sua ligação com Astrid Kirchherr deixaram marcas permanentes na identidade da banda.
Pete Best foi vítima da indústria ou de suas próprias limitações?
Um pouco dos dois. Ele tinha carisma, mas faltava técnica. George Martin não queria arriscar gravações com um baterista irregular.
Sem a dureza de Liverpool e Hamburgo, os Beatles teriam chegado ao estrelato?
É improvável. Esses ambientes moldaram a disciplina, a rebeldia e a confiança que definiram a primeira fase da banda.
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Por Camila Stronda
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