
Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.
The Who: a ópera rock que sacudiu o amanhecer
Quando o The Who subiu ao palco em Woodstock, já passava das cinco da manhã de domingo. O atraso havia virado rotina no festival, e a plateia estava dividida entre os que dormiam na lama e os que resistiam a tudo para ver a banda britânica. Pete Townshend, Roger Daltrey, John Entwistle e Keith Moon chegaram irritados com a desorganização, mas, assim que os primeiros acordes soaram, o clima mudou.
Em 1969, o The Who estava em plena ascensão após o lançamento de Tommy, a primeira ópera rock de sucesso. Woodstock foi uma das primeiras vezes em que apresentaram boa parte do álbum ao vivo, e músicas como Pinball Wizard e Sparks ganharam uma intensidade brutal diante da multidão sonolenta.
Apesar do horário ingrato, a apresentação foi explosiva. Townshend não economizou em seus famosos “windmills”, rodando o braço sobre a guitarra como se fosse uma arma. Moon, insano, parecia tocar como se não houvesse amanhã. E Daltrey, com a voz já rouca pela maratona, entregou vocais poderosos em See Me, Feel Me.
O momento mais marcante
Quando o sol começou a nascer por trás do palco e o The Who emendou See Me, Feel Me, o público se ergueu em êxtase. Aquela combinação de música, exaustão e luz da manhã criou uma das imagens mais icônicas de Woodstock.
Jefferson Airplane: o delírio psicodélico ao nascer do sol
Logo após o The Who, foi a vez do Jefferson Airplane assumir o palco, já em plena manhã de domingo. A banda de São Francisco era uma das grandes representantes da psicodelia da Costa Oeste e havia se tornado um nome de culto com Surrealistic Pillow (1967).
Grace Slick, a vocalista, entrou saudando o público com ironia: “Bom dia, pessoas! Vocês viraram noite com a gente”. A banda então disparou clássicos como Somebody to Love e White Rabbit, duas canções que simbolizavam o mergulho psicodélico dos anos 60.
A performance, porém, não foi perfeita. O som estava saturado, os equipamentos já sofriam com a chuva e o desgaste, e a banda, claramente cansada, parecia lutar contra a própria maratona. Ainda assim, o carisma de Grace e a intensidade da música transformaram aquele amanhecer em uma viagem coletiva.
O momento mais marcante
White Rabbit, cantada sob a luz do sol nascente, virou um delírio coletivo. A plateia, já em estado alterado por cansaço e substâncias diversas, embarcou no mantra lisérgico inspirado em Alice no País das Maravilhas.
Entre caos e catarse
A madrugada de Woodstock mostrou o quanto o festival era mais do que técnica e perfeição. The Who e Jefferson Airplane enfrentaram atrasos, som ruim e público exausto. Mas, em vez de colapsar, transformaram essas condições em combustível para performances que ainda hoje são lembradas como marcos.
O The Who trouxe a fúria britânica e deu a Woodstock um dos amanheceres mais icônicos do rock. O Jefferson Airplane, por sua vez, traduziu em música o próprio espírito psicodélico da época. Entre guitarras furiosas e mantras alucinados, a madrugada virou eternidade.
Questões que não querem calar
O The Who estava em seu auge em Woodstock?
Sim. Tommy havia sido lançado poucos meses antes e consolidava a banda como inovadora, misturando rock e narrativa conceitual.
Pete Townshend realmente agrediu Abbie Hoffman no palco?
Sim. O ativista invadiu o palco para protestar contra a prisão de John Sinclair, e Townshend, furioso, o expulsou aos gritos, até o empurrando com a guitarra.
Por que o show do Jefferson Airplane é lembrado mesmo com falhas técnicas?
Porque White Rabbit e Somebody to Love encapsulam a era psicodélica. O contexto, mais do que a execução, fez da apresentação um marco.
O nascer do sol ajudou na mística desses shows?
Sem dúvida. A fusão de música, exaustão e amanhecer criou uma atmosfera quase mística.
Leia também
- Woodstock 1969: o festival que mudou para sempre a cultura do rock — Parte 1
- Woodstock 1969: as primeiras vozes da rebeldia — Parte 2
- Woodstock 1969: soul, blues e vulnerabilidade — Parte 3
- Woodstock 1969: rock pesado na lama — Parte 4
- Woodstock 1969: harmonia e espiritualidade — Parte 6
- Woodstock 1969: groove e distorção final — Parte 7
- Woodstock 1969: o epílogo incendiário — Parte 8
- Woodstock 1969: mito, caos e legado cultural — Parte 9 (final)
Por Camila Stronda
Esse é apenas um lado da conversa. Qual é o seu? Comente e participe da discussão.
