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Crosby, Stills, Nash & Young: a estreia nervosa que virou história
Na tarde de domingo, 17 de agosto de 1969, subiu ao palco de Woodstock um grupo que ainda engatinhava, mas que logo se tornaria um dos nomes mais respeitados do folk rock americano: Crosby, Stills, Nash & Young. Formado apenas alguns meses antes, o quarteto havia feito sua estreia oficial dias antes em um show em Chicago. Woodstock seria, portanto, um de seus primeiros grandes testes diante de uma plateia massiva.
David Crosby, Stephen Stills e Graham Nash já vinham de experiências de sucesso — Crosby havia integrado o Byrds, Stills o Buffalo Springfield, e Nash vinha dos Hollies. A adição de Neil Young, com sua guitarra cortante e personalidade inquieta, deu ao grupo um equilíbrio perfeito entre a delicadeza das harmonias e a força do rock.
Mesmo assim, havia insegurança. Stephen Stills, antes de começar, confessou: “É só o nosso segundo show, e estamos apavorados”. O público, no entanto, não percebeu hesitação: o que ouviu foi uma combinação de vozes que parecia transcender o caos do festival.
Músicas como Suite: Judy Blue Eyes encantaram a multidão com seu jogo de harmonias vocais, enquanto Wooden Ships, coescrita por Crosby, trouxe um tom mais sombrio, refletindo o medo da guerra e a busca por refúgio. Foi um momento de respiro e espiritualidade no meio do lamaçal.
O momento mais marcante
Suite: Judy Blue Eyes, longa e delicada, mostrou a magia do quarteto. Era como se cada voz fosse um instrumento, criando uma tapeçaria sonora rara no rock. A canção conquistou até os que, até então, resistiam ao folk.
The Band: o folk elegante no coração de Woodstock
Logo após CSN&Y, foi a vez do The Band subir ao palco. Se havia um grupo que conseguia traduzir em música a tradição rural americana, era esse. Formados como banda de apoio de Bob Dylan nos anos anteriores, Robbie Robertson, Levon Helm, Rick Danko, Richard Manuel e Garth Hudson já haviam provado seu valor com Music from Big Pink (1968), um álbum que misturava country, blues e gospel em algo profundamente original.
Em Woodstock, o The Band trouxe exatamente essa sonoridade enraizada. Canções como The Weight e Chest Fever ecoaram como hinos atemporais, evocando não a rebeldia urbana, mas a alma profunda do interior americano. O público, que até então havia dançado, gritado e se perdido em psicodelia, encontrou um raro momento de contemplação.
Não houve pirotecnia, nem explosão de guitarras. Apenas músicos excepcionais tocando como se estivessem em uma varanda, e o campo de Bethel silenciou para ouvir. Foi talvez a apresentação mais “sóbria” do festival, mas não menos impactante.
O momento mais marcante
The Weight, cantada em coro pela plateia, transformou Woodstock em um enorme encontro de vozes. A simplicidade da canção contrastava com a grandiosidade do evento, e talvez por isso tenha ficado marcada: era como se todos estivessem sentados juntos em torno de uma fogueira.
Harmonia e raízes em meio ao caos
Se Santana e Janis haviam levado Woodstock à intensidade máxima, CSN&Y e The Band trouxeram um contraponto: harmonia, espiritualidade e raízes. Era a prova de que o festival não vivia apenas de excessos, mas também de momentos de pausa, onde a música convidava à reflexão.
O contraste entre as vozes cristalinas e o cenário de lama e improviso fez desses shows uma experiência quase mística.
Questões que não querem calar
Por que CSN&Y estavam nervosos em Woodstock?
Porque era apenas o segundo show oficial do quarteto. Eles ainda não sabiam se sua química funcionaria diante de um público tão grande.
Neil Young participou integralmente da apresentação?
Sim, mas de forma controversa: ele não queria ser filmado e proibiu câmeras durante sua participação, por isso quase não aparece no documentário oficial.
O The Band foi bem recebido?
Muito. Embora não fosse explosivo, seu show foi visto como um dos mais sofisticados do festival, consolidando-os como referência no folk rock.
“The Weight” já era famosa em 1969?
Sim. Lançada em 1968, já havia conquistado respeito crítico, mas em Woodstock ganhou status de hino popular.
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Por Camila Stronda
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