Woodstock 1969: o epílogo incendiário de Jimi Hendrix — Parte 8

Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.

Hendrix em 1969: auge e turbulência

Em agosto de 1969, Jimi Hendrix já era reconhecido como o maior guitarrista vivo. Havia reinventado o instrumento em discos como Are You Experienced (1967) e Electric Ladyland (1968). Seu nome era sinônimo de inovação, distorção e intensidade. Ainda assim, sua vida pessoal estava marcada pelo excesso: drogas, conflitos e uma rotina desgastante de turnês.

Woodstock seria mais um show em sua agenda caótica — mas acabaria se tornando a performance mais icônica de sua carreira.

O atraso que virou destino

Hendrix estava programado para tocar no domingo à noite, mas, como quase tudo em Woodstock, o cronograma se perdeu no caos. O atraso foi tão grande que ele só subiu ao palco na manhã de segunda-feira, 18 de agosto, quando a maioria do público já havia ido embora.

Dos quase 400 mil que lotaram a fazenda de Bethel nos dias anteriores, restavam cerca de 30 mil espectadores, muitos exaustos e prontos para pegar a estrada. Hendrix, no entanto, não se importou. Diante de um público reduzido, entregou um show histórico, provando que a grandeza não se mede pela quantidade de pessoas diante do palco.

Uma nova banda para um momento único

Para Woodstock, Hendrix montou uma formação chamada Gypsy Sun and Rainbows, apelidada por ele mesmo de “a banda de madeira e gelo”. O grupo incluía Mitch Mitchell (bateria), Billy Cox (baixo), Larry Lee (guitarra rítmica) e dois percussionistas adicionais. Era um som mais cru, mais livre, menos polido que o da Experience.

Esse formato deu a Hendrix a liberdade para improvisar longos trechos instrumentais, experimentando novas sonoridades.

O hino distorcido que virou protesto

O setlist incluiu clássicos como Spanish Castle Magic, Voodoo Child (Slight Return) e Purple Haze, mas o momento que se tornaria eterno foi a interpretação de The Star-Spangled Banner, o hino dos Estados Unidos.

Sozinho no palco, Hendrix transformou a melodia oficial em uma pintura sonora de caos e violência. Com distorções, feedbacks e notas dissonantes, reproduziu o som de bombas, sirenes, tiros e gritos — um retrato musical da guerra do Vietnã, transmitido em tempo real por quem tinha o poder de fazer a guitarra falar.

O público ouviu estarrecido. Aquilo não era apenas música: era um protesto político sem palavras, uma desconstrução do patriotismo cego e uma denúncia contra a guerra. Hendrix, negro em uma América dividida racialmente, assumia o hino de seu país e o devolvia em chamas.

O momento mais marcante

The Star-Spangled Banner não apenas entrou para a história: tornou-se símbolo. Até hoje, é lembrado como uma das maiores performances políticas da música popular.

O encerramento com Purple Haze

Depois do hino, Hendrix seguiu com Purple Haze e Hey Joe. Sua guitarra parecia cuspir fogo, alternando entre caos e lirismo. Embora o público fosse pequeno, a entrega era absoluta. Era como se ele tocasse para a eternidade, não para os que resistiam na lama.

O impacto imediato

Curiosamente, a recepção inicial foi morna. Muitos críticos acharam o show longo demais, disperso, quase caótico. Só com o lançamento do documentário e dos álbuns de Woodstock é que sua apresentação foi reavaliada como um dos pontos culminantes da música do século XX.

Com o tempo, tornou-se claro: Hendrix não apenas encerrou Woodstock, ele encerrou toda uma era. Sua performance simbolizava a transição entre a utopia hippie e a realidade dura que viria nos anos 70.

Hendrix, o último acorde de Woodstock

Woodstock terminou com Hendrix porque não poderia terminar de outra forma. Sua guitarra, distorcendo o hino americano em um grito contra a guerra, resumia todo o espírito do festival: a busca por liberdade, a recusa em aceitar o mundo como estava, a fusão entre arte e política.

Ali, diante de um público já reduzido, Jimi Hendrix escreveu seu nome na eternidade.


Questões que não querem calar

Por que havia tão poucas pessoas no show de Hendrix?
Porque ele tocou na manhã de segunda-feira, quando a maioria já havia deixado o festival.

O hino americano foi improvisado?
Não totalmente. Hendrix já havia testado versões ao vivo, mas em Woodstock levou a interpretação ao limite, transformando-a em protesto explícito contra a guerra.

Foi o melhor show de Hendrix?
Muitos críticos consideram que sim. Não pela perfeição técnica, mas pela carga simbólica e pelo impacto cultural.

Hendrix encerrou Woodstock de propósito?
Sim. A organização o colocou por último justamente para dar peso ao fechamento.


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Por Camila Stronda


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