Woodstock 1969: soul, blues e vulnerabilidade — Parte 3

Imagem ilustrativa criada com inteligência artificial.

Santana: a fúria latina que incendiou Woodstock

Na tarde de 16 de agosto de 1969, o público de Woodstock ainda não tinha ideia do que iria ouvir. Santana, então um grupo praticamente desconhecido de San Francisco, não tinha nem mesmo um álbum lançado. Para muitos, parecia apenas mais uma banda a preencher a longa lista do festival. Mas bastaram poucos acordes para que Carlos Santana e sua trupe transformassem aquele palco em um vulcão de ritmo.

A mistura de blues, rock e percussão latina soava inédita aos ouvidos da multidão. Logo no início, músicas como Evil Ways e Jingo arrancaram aplausos entusiasmados, mas foi em Soul Sacrifice que tudo explodiu. O baterista Michael Shrieve, com apenas 20 anos, assumiu um solo hipnótico que fez o público vibrar como se estivesse participando de um ritual coletivo.

Curiosamente, Santana já havia admitido que estava sob efeito de LSD durante a apresentação. Tocava tentando “domar uma cobra” que via se mexendo em seu braço. O resultado foi uma performance arrebatadora, filmada e eternizada no documentário de Woodstock. Ali, Santana deixou de ser um desconhecido para se tornar uma das grandes promessas do rock dos anos 70.

O momento mais marcante

Soul Sacrifice não foi apenas a consagração da banda, mas um divisor de águas para o rock. Pela primeira vez, ritmos latinos foram apresentados a uma plateia massiva como parte orgânica do gênero. Santana saiu de Bethel direto para a capa das revistas, e o lançamento de seu álbum de estreia, poucas semanas depois, ganhou um impacto que mudou o curso da história da banda.

Janis Joplin: a vulnerabilidade transformada em catarse

Se Santana representava a novidade, Janis Joplin já era uma estrela. Aos 26 anos, havia conquistado fama com a Big Brother and the Holding Company, especialmente após o álbum Cheap Thrills (1968). Em Woodstock, ela subiu ao palco nas primeiras horas do domingo, mas não estava em seu melhor momento. O excesso de álcool e drogas já cobrava seu preço.

Mesmo assim, quando Janis abria a boca, não havia como negar sua força. Em Try (Just a Little Bit Harder), sua voz rasgada ecoava como um grito de dor e libertação. Em Piece of My Heart, ela parecia oferecer sua alma em cada verso, transformando vulnerabilidade em potência. Mas foi em Ball and Chain que entregou seu momento mais catártico: suada, descompassada, mas absolutamente entregue, como se estivesse queimando por dentro.

Ao contrário de Santana, Janis enfrentou críticas posteriores por não ter apresentado uma performance impecável. Mas a verdade é que seu show em Woodstock não foi sobre perfeição. Foi sobre verdade. Sua entrega visceral mostrava a fragilidade e a intensidade de uma artista que parecia viver cada canção como se fosse a última.

O momento mais marcante

Quando Janis cantou Ball and Chain, o público entendeu que estava diante de algo além da música. Era uma mulher lutando contra si mesma, contra seus demônios, contra o mundo. Essa honestidade brutal é o que a mantém viva na memória coletiva.

Entre o êxtase e a dor

Santana e Janis Joplin, em lados opostos do espectro, mostraram a essência de Woodstock: improviso, intensidade e verdade. Santana conquistou o público com energia inédita, enquanto Janis revelou a dor e a fragilidade escondidas atrás de sua aura de estrela.

Um representava o futuro promissor; a outra, a crueza de um talento já consumido pela intensidade. Juntos, deram a Woodstock sua tarde mais emocional.


Questões que não querem calar

Santana já era famoso quando tocou em Woodstock?
Não. Era praticamente desconhecido e saiu de lá como revelação mundial.

Por que Michael Shrieve ficou marcado?
Seu solo em Soul Sacrifice é considerado um dos melhores momentos do festival e mostrou a maturidade impressionante de um músico de apenas 20 anos.

O show de Janis Joplin decepcionou?
Alguns críticos acharam instável, mas o público viu verdade e emoção. Foi mais catártico do que técnico.

Por que Ball and Chain foi tão importante?
Porque escancarou a alma de Janis. Ali não havia máscara: só a entrega absoluta de uma artista em conflito consigo mesma.


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Por Camila Stronda


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